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caminheiros de Merda

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16
Out11

É devido...


xapim

...o prometido, claro. Também é devido pagar o que devemos, por isso Portugal está tão à rasca! Assim não estão os cAminHEiRos de MerdA para cumprir uma visita a Sanguinhedo e Contença, Cinfães, como no post de 17 de setembro ficou combinado.

A meio de Cinfães entramos no primeiro caminho velho que encontramos, é este o nosso destino... Pisar as ervas que ninguém pisa, olhar as flores silvestres que ninguém olha, ouvir pássaros que os ruídos do mundo não deixam ninguém ouvir, provar as frutas originais e saborosas que as árvores oferecem mas toda a gente vai comprar ao supermercado. Move-nos a autenticidade das coisas esquecidas, do espontâneo, move-nos a beleza em bruto, move-nos o cheiro do Portugal antigo que os nossos bisavós com tanta sabedoria e sacrifício construiram numa sintonia perfeita com a natureza. Os muros dos caminhos estreitos, as ramadas, os palheiros, as videiras idosas, as pessoas que ainda carregam consigo o espírito de uma aldeia que já não existe, os cães que nos ladram e abanam o rabo a dizer que nos estão a cumprimentar, são fotografias que tiramos e gravamos no nosso disco para nos acompanharem no dia a dia dum mundo ingrato ali mesmo ao lado! Calçamos as botas todos os domingos de manhã para sermos peregrinos em direcção a um santiago de compostela que já não existe mas que vamos encontrando nestes recantos perdidos. Somos romeiros e responderemos "ninguém" a quem nos pergunte quem somos.

Regressado da Hungria onde foi participar (!...) na maratona de Budapeste (que caMiNHeiRo de MerdA não é só caminheiro) o "irmão" Leitão começou a lançar a sua Nikkon em direcção a todas as flores que encontrava e às borboletas que ainda vagueiam por aí. As paisagens vistas da parte de cima de Cinfães até ao rio Douro, e as encostas já do outro lado, tudo semeado de casario e verdura, são uma tentação mesmo para a Nikkon do Kim, retratista sempre atento a momentos de beleza que gosta de partilhar no sapo.fotos ou no olhares.com. Entre fotos e provas de figos e uvas de fino sabor que ainda restam do parto da natureza, temos conversas profundas sobre temas dos mais diversos, dos quais não percebemos nada mas sobre os quais fazemos profundas reflexões. A visão do que é Deus é o tema perferido do Kim, militante leitor de tudo o que se refere à explicação do significado da vida e sua origem e destino, sobretudo no que ao Homem diz respeito. É um tema complicado que assusta o Xapim, mais duvidoso e inseguro do que entendido nestes assuntos, e que o irmão Leitão encara mais com um realismo e certeza de que não é muito importante para ele. Visões diferentes, pontos de vista quase antagónicos, mas que nos mantêm sempre de acordo. É este o nosso destino, esfarrapados de espírito e tristes caminheiros.

Quase sem nos darmos conta, deparamo-nos com um dilema: chegamos ao local onde havia duas estradas, uma para Sanguinhedo e outra para Contença.

 O dilema (foto Xapim)

Discutíamos a questão sem conseguir a maioria absoluta para nenhum dos lados, e já falávamos novamente de Deus quando nos demos conta que já seguíamos em direcção a Sanguinhedo. É assim que funcionamos, numa coexistência pacífica que só pode ser obra do sincrodestino de que fala um dos livros que o Kim me emprestou para ler.

E Sanguinhedo à vista. Silêncio, solidão e calmaria foi o primeiro impacto à entra da pacata aldeia. Não víamos pessoas (para a missa com certeza), mas deliciamos a vista com os prados floridos e verdes que ladeavam a estrada estreita que a atravessava, onde algumas borboletas esvoaçavam em controlo aéreo da sua zona de responsabilidade. Não vimos as casas velhas que esparávamos e as pessoas com quem gostarímos de trocar duas palavras, mas respiramos aquele ar que a montanha sabe oferecer melhor que ninguém e que estes tristes caminheiros ali perdidos também mereciam.

O dilema que nos apoquentava deixou de o ser, e o desgosto de não poderemnos visitar as duas aldeias no mesmo dia também ficou minorado quando verificamos que à nossa direita, mais urbana e aparentemente populosa, se avistava Contença! Pareceu-nos avistar uma torre de igreja e ouvir um sino, se calhar a justificação para a notada ausência de pessoas. E concluímos, nós que somos tristes mas não palermas, que a capital de Sanguinhedo e Contença é Contença, como Ouagadougou é a capital do Burkina Faso.

     À entrada de Sanguinhedo                                             O prado florido                                                 Vista de Contença

         

 É muito o que Portugal nos oferece, é quase demasiado o que a natureza nos põe à frente dos olhos, fica quase bêbada a nossa alma caminheira com tanta fartura! Uma coisa no entanto é inexorável e nos deixa impotentes: o tempo. É a hora de regressar e também de ir acabando este texto que, parecendo tamanho, quase tudo deixa por contar: é a alma dum cAmInHeiRo de MerdA sempre insatisfeita.

No regresso, o encontro inevitável com um dos nosso irmãos mais fiéis nestas andanças: um cão. Ladram bravos ao nosso encontro, com uma bravura que, acreditamos, é a maneira de expressarem a alegria de nos verem tal é a rapidez com que mudam a sua atitude e abanam o rabo num abraço de velhos colegas de caminhada que se encontram passado muito tempo. Entregam-se e alguns até nos acompanham pelos caminhos velhos que pisamos, cães como nós!

Adeus Sanguinhedo e Contença: havemos de voltar!

       O irmão cão (o castanho, claro!)                                    O irmãozinho cãozinho                                                       Árvore exibicionista

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